Ana Clara Guerra Marques
Fotografia: Jornal de Angola
Ana Clara Guerra Marques é professora de dança, coreografa, bailarina e assessora do gabinete da ministra da Cultura. Em 2006 recebeu o Prémio Nacional de Cultura e Artes.
Clara, ou Clarinha para os mais próximos, é uma referência da dança e da coreografia de autor em Angola e, para muitos, dispensa apresentações. Trata-se de um nome sonante por ser a fundadora da Companhia de Dança Contemporânea em Angola e oriunda de uma família cujo nível de vida social, académico e profissional sempre foram um modelo.
Do registo familiar consta que a mãe é formada em Filologia Românica e actualmente professora universitária. O pai, por seu lado, foi um dos engenheiros civis de referência em Angola. O tio paterno foi reitor da Universidade Agostinho Neto (UAN), durante longos anos. Do lado da mãe tem dois tios na carreira académica, um na área da História de Arte e outro escultor. A sua avó foi professora e directora da Escola do Grémio Africano em Luanda. Trata-se da primeira filha de duas meninas.
Mas nem por isso, Ana Clara Guerra Marques se envaidece. É uma mulher simples, comunicativa e que prima pela emancipação feminina. Tem como estaca educativa a escola número 83, localizado no Bairro da Vila Alice, município do Rangel. “Felizmente, estudei sempre em escolas humildes”, realça.
Foi este perfil de vida que lhe permitiu que adquirisse valores de amor ao próximo e respeito pelos outros. Foi ali que Clarinha, como era carinhosamente chamada na infância, iniciou os seus primeiros passos como bailarina.
Na verdade, durante a sua infância, adorava escrever e aprender línguas. Por isso, sonhava ser escritora e falar vários idiomas. Hoje, é coreógrafa, professora e bailarina. Foi pelas mãos da professora Maria Helena Coelho, na então Academia de Bailado de Angola, que Ana Clara Guerra Marques começou a adquirir o gosto pelo bailado.
Já no dealbar da independência de Angola, a Academia de Bailado de Angola encerrou e por iniciativa do malogrado poeta António Jacinto, então responsável pelo Conselho Nacional de Cultura, hoje Ministério da Cultura, nasceu o primeiro núcleo académico (Escola) de bailado de Angola.
A instituição passou a designar-se Escola de Dança do Departamento da Cultura do Conselho Nacional da Cultura de Angola. Nessa época, Ana Clara Guerra Marques tinha apenas 14 anos. Os primeiros passos embrionários da escola ficaram afectados com a desistência dos seus professores.
Clara estreou-se como bailarina em 1981, num espectáculo da Escola de Dança, no Teatro Avenida, e nunca mais se afastou do bailado.
Estudante e professora
As condições de funcionamento da Escola de Dança do Departamento da Cultura do Conselho Nacional da Cultura de Angola eram péssimas e exigiam o empenho e entusiasmo de cada um dos actores. Foi neste ambiente que marcou pontos na sua afirmação.
Sem professores para lhe ensinarem a dança e a desistência da única colega de turma fizeram com que optasse por uma decisão forte: continuar. Por iniciativa individual, e contando com o apoio moral de António Jacinto e da família, tornou-se a única professora da Escola de Dança.
Mesmo sem grandes conhecimentos em coreografia e dança, aos 16 anos, Clarinha já era uma ferrenha defensora da existência da Escola de Dança. Para aperfeiçoar a sua formação em bailado, abandonou a Faculdade de Economia que então frequentava e apostou em vários cursos de superação no estrangeiro.
Ana Clara Guerra Marques é uma mulher de perfil aguerrido. À medida que o tempo foi passando, ganhou confiança e um estilo próprio. Aprendeu muito com os professores cubanos e soviéticos que, de quando em vez, vinham a Angola dar aulas de aperfeiçoamento.
Aferrou-se ao bailado e à escola de tal maneira que acabou por ir adiando, várias vezes, o seu maior sonho: formar-se em dança. Na década de 80, depois de várias indefinições, decide verdadeiramente partir para o estrangeiro e frequentar um curso superior em dança e coreografia.
O destino foi Portugal e hoje tem o mestrado em performance artística e dança. Trata-se do olhar a dança nas suas diversas vertentes: artística, terapêutica, recreativa, patrimonial e corporal.
A Companhia de Dança Contemporânea
Depois de concluída a primeira fase da licenciatura em dança, volta para Luanda e regressa-lhe a velha ideia de criar uma companhia de dança que pudesse espelhar a realidade do bailado e não só. “Missão única é afirmar a importância do bailarino e da dança teatral”.
Tratava-se de um sonho há muito idealizado. Criou projectos plausíveis e recorreu às instâncias governamentais para que a apoiassem na concretização do desígnio. Mas nem tudo foi bom para Ana Clara Guerra Marques.
O desconhecimento em relação ao bailado e coreografia tornaram-se empecilhos. Não desistiu. Persistiu, até que em Abril de 1991 nasceu a Companhia de Dança Contemporânea de Angola, uma das primeiras do continente africano. O sucesso foi notável.
Ana Clara Responde
Quantos filhos tem?Só tenho uma menina. Já tem 21 anos e está a estudar Gestão. Ela foi minha aluna, durante algum tempo, quando era criança. Depois desistiu. Acho que a dança não é sua vocação.
Que marcas tem da infância?
As minhas brincadeiras na infância nunca tiveram a ver com dança. Foram sempre corridas e brincadeiras com bonecas. Brincávamos ao ar livre, ali naquele largo onde se localiza hoje a Agência de Notícias de Angola (ANGOP). Andávamos de bicicleta o que resultou em várias feridas.
Clara, ou Clarinha para os mais próximos, é uma referência da dança e da coreografia de autor em Angola e, para muitos, dispensa apresentações. Trata-se de um nome sonante por ser a fundadora da Companhia de Dança Contemporânea em Angola e oriunda de uma família cujo nível de vida social, académico e profissional sempre foram um modelo.
Do registo familiar consta que a mãe é formada em Filologia Românica e actualmente professora universitária. O pai, por seu lado, foi um dos engenheiros civis de referência em Angola. O tio paterno foi reitor da Universidade Agostinho Neto (UAN), durante longos anos. Do lado da mãe tem dois tios na carreira académica, um na área da História de Arte e outro escultor. A sua avó foi professora e directora da Escola do Grémio Africano em Luanda. Trata-se da primeira filha de duas meninas.
Mas nem por isso, Ana Clara Guerra Marques se envaidece. É uma mulher simples, comunicativa e que prima pela emancipação feminina. Tem como estaca educativa a escola número 83, localizado no Bairro da Vila Alice, município do Rangel. “Felizmente, estudei sempre em escolas humildes”, realça.
Foi este perfil de vida que lhe permitiu que adquirisse valores de amor ao próximo e respeito pelos outros. Foi ali que Clarinha, como era carinhosamente chamada na infância, iniciou os seus primeiros passos como bailarina.
Na verdade, durante a sua infância, adorava escrever e aprender línguas. Por isso, sonhava ser escritora e falar vários idiomas. Hoje, é coreógrafa, professora e bailarina. Foi pelas mãos da professora Maria Helena Coelho, na então Academia de Bailado de Angola, que Ana Clara Guerra Marques começou a adquirir o gosto pelo bailado.
Já no dealbar da independência de Angola, a Academia de Bailado de Angola encerrou e por iniciativa do malogrado poeta António Jacinto, então responsável pelo Conselho Nacional de Cultura, hoje Ministério da Cultura, nasceu o primeiro núcleo académico (Escola) de bailado de Angola.
A instituição passou a designar-se Escola de Dança do Departamento da Cultura do Conselho Nacional da Cultura de Angola. Nessa época, Ana Clara Guerra Marques tinha apenas 14 anos. Os primeiros passos embrionários da escola ficaram afectados com a desistência dos seus professores.
Clara estreou-se como bailarina em 1981, num espectáculo da Escola de Dança, no Teatro Avenida, e nunca mais se afastou do bailado.
Estudante e professora
As condições de funcionamento da Escola de Dança do Departamento da Cultura do Conselho Nacional da Cultura de Angola eram péssimas e exigiam o empenho e entusiasmo de cada um dos actores. Foi neste ambiente que marcou pontos na sua afirmação.
Sem professores para lhe ensinarem a dança e a desistência da única colega de turma fizeram com que optasse por uma decisão forte: continuar. Por iniciativa individual, e contando com o apoio moral de António Jacinto e da família, tornou-se a única professora da Escola de Dança.
Mesmo sem grandes conhecimentos em coreografia e dança, aos 16 anos, Clarinha já era uma ferrenha defensora da existência da Escola de Dança. Para aperfeiçoar a sua formação em bailado, abandonou a Faculdade de Economia que então frequentava e apostou em vários cursos de superação no estrangeiro.
Ana Clara Guerra Marques é uma mulher de perfil aguerrido. À medida que o tempo foi passando, ganhou confiança e um estilo próprio. Aprendeu muito com os professores cubanos e soviéticos que, de quando em vez, vinham a Angola dar aulas de aperfeiçoamento.
Aferrou-se ao bailado e à escola de tal maneira que acabou por ir adiando, várias vezes, o seu maior sonho: formar-se em dança. Na década de 80, depois de várias indefinições, decide verdadeiramente partir para o estrangeiro e frequentar um curso superior em dança e coreografia.
O destino foi Portugal e hoje tem o mestrado em performance artística e dança. Trata-se do olhar a dança nas suas diversas vertentes: artística, terapêutica, recreativa, patrimonial e corporal.
A Companhia de Dança Contemporânea
Depois de concluída a primeira fase da licenciatura em dança, volta para Luanda e regressa-lhe a velha ideia de criar uma companhia de dança que pudesse espelhar a realidade do bailado e não só. “Missão única é afirmar a importância do bailarino e da dança teatral”.
Tratava-se de um sonho há muito idealizado. Criou projectos plausíveis e recorreu às instâncias governamentais para que a apoiassem na concretização do desígnio. Mas nem tudo foi bom para Ana Clara Guerra Marques.
O desconhecimento em relação ao bailado e coreografia tornaram-se empecilhos. Não desistiu. Persistiu, até que em Abril de 1991 nasceu a Companhia de Dança Contemporânea de Angola, uma das primeiras do continente africano. O sucesso foi notável.
Ana Clara Responde
Quantos filhos tem?Só tenho uma menina. Já tem 21 anos e está a estudar Gestão. Ela foi minha aluna, durante algum tempo, quando era criança. Depois desistiu. Acho que a dança não é sua vocação.
Que marcas tem da infância?
As minhas brincadeiras na infância nunca tiveram a ver com dança. Foram sempre corridas e brincadeiras com bonecas. Brincávamos ao ar livre, ali naquele largo onde se localiza hoje a Agência de Notícias de Angola (ANGOP). Andávamos de bicicleta o que resultou em várias feridas.
Como é que encara a dança contemporânea?Em Angola, ela está ainda muito aquém do desenvolvimento desejado. Existe a Companhia de Dança Contemporânea, que estamos agora a recuperar depois de um longo período de ausência dos palcos. Enquanto não houver um sistema de ensino eficaz e o estudo e investigação das nossas danças patrimoniais, que devem entrar para os currículos de ensino, senão vão perder-se, não haverá desenvolvimento. As pessoas devem saber qual a importância da dança teatral, das suas diferentes vertentes e o que é ser um profissional formado.
Profissionalmente tem a dança como única ocupação?
Sim. Quanto mais estudamos, mais possibilidades nós temos. Continuo a dar aulas de dança, a coreografar. Como investigadora, escrevo para várias revistas académicas e científicas da especialidade e de antropologia. Neste momento sou também assessora da senhora ministra da Cultura. Faço absolutamente tudo para rentabilizar o meu tempo.
Sim. Quanto mais estudamos, mais possibilidades nós temos. Continuo a dar aulas de dança, a coreografar. Como investigadora, escrevo para várias revistas académicas e científicas da especialidade e de antropologia. Neste momento sou também assessora da senhora ministra da Cultura. Faço absolutamente tudo para rentabilizar o meu tempo.
É casada?Sim. O meu marido é realizador/produtor de cinema e tem uma grande obra no plano da cultura angolana. Realizou uma trilogia sobre a música em Angola (dos Ngola Ritmos até ao Kuduro) e também a primeira co-produção entre Angola e Portugal – o Miradouro da Lua. Está para breve um documentário sobre o Liceu Vieira Dias.
Resta-lhe tempo para cozinhar?Não gosto de cozinhar. Não gosto muito de comer. Acho que estar à mesa a comer é para convívio.
Resta-lhe tempo para cozinhar?Não gosto de cozinhar. Não gosto muito de comer. Acho que estar à mesa a comer é para convívio.
Notícia publicada originalmente em 05 de setembro no Jornal de Angola on line.